10 de setembro de 2011

Reflexão

O caminho da investigação é longo, deve ser atento, colaborativo e participativo.

Longo porque é uma área muito sensível, que obriga o domínio das metodologias de investigação, ou pelo menos um conhecimento suficientemente abrangente, de modo a focalizarmo-nos naquelas que mais se adequam no âmbito da nossa investigação. A complexidade existente nas metodologias de investigação obriga a um estudo longo e aprofundado das mesmas, nomeadamente através de uma vertente mais prática, de aplicação das técnicas para a recolha de dados e de redação da escrita científica. Por outro lado o caminho na investigação surge de acordo com os interesses do investigador e das linhas de investigação do domínio científico. Se a primeira depende muito das características intrapessoais do próprio investigador, a segunda remete para a questão da atenção à realidade da investigação.

Como foi explorado na Investigação em EaD, um aspeto muito importante para quem é investigador, é ter um profundo conhecimento das linhas orientadoras e das áreas emergentes de um determinado domínio científico. Para o efeito é necessário acompanhar de perto a produção científica dos seus pares e o acompanhamento das revistas científicas de renome.

Contudo, este aspeto parece não ser suficiente, porque nem todo o trabalho científico produzido nestas revistas é proveniente de toda a comunidade científica. Assim, urge o contacto com diferentes unidades e grupos de investigação. A partilha, a participação e a colaboração entre investigadores do mesmo assunto pode ser um elemento essencial para o desenvolvimento do saber na área. Se antigamente o processo de investigação, e em particular o de um doutoramento, era vivido de modo quase solitário, hoje em dia, através da internet conseguimos romper muitas barreiras e ter acesso a grupos com quem podemos trabalhar conjuntamente.

Uma vez definido o estudo a seguir, o suporte do orientador, a supervisão dos docentes e a troca de ideias entre colegas com linhas de investigação semelhantes à nossa pode ser um caminho bastante produtivo na condução do nosso estudo. Apesar disso, o contacto com pessoas que estejam a estudar o mesmo objeto de investigação permite uma análise mais detalhada e mais precisa, já que se trata de pessoas que revelam um profundo conhecimento naquele saber específico. Foi por esse motivo que me levou a entrar em contacto com o espaço de partilha do Teorema da Equivalência na Interação, local gerido por Terry Anderson e Terumi Miyazoe.

20 de agosto de 2011

Análise de redes sociais

Hoje em dia, quando pensamos em análise de redes sociais, pensamos nas redes sociais que surgiram com a Web 2.0, contudo, a análise de redes sociais (também conhecida como análise sociométrica) é uma prática bem anterior ao Twitter, ao Youtube, ao Facebook ou a outras ferramentas sociais online.

Na educação, a análise da socioconfiguração das relações interpessoais tem sido um elemento presente, por exemplo, na constituição das turmas ou na resolução de problemas de uma turma em específico. Contudo, os media social trouxeram uma nova dimensão à educação e cada vez mais assistimos à integração destes nas práticas educativas. Sendo um aspeto emergente na educação, torna-se essencial a análise das redes sociais estabelecidas em situações de aprendizagem onde a comunicação é mediada por tecnologias online.

Wellman (2001) refere que quando um conjunto de pessoas se institui como grupo unido pela ligação que entre elas se estabelece através da Internet, a mesma se institui como rede social online; a world wide web, como meio de suporte à informação e comunicação, promove o contacto entre os membros, cultivando laços e fomentando a partilha de recursos. O mesmo autor chama a atenção para o facto da comunicação e interações mediadas por computador desenvolvidas entre agentes instigarem a formação de redes sociais e não de grupos.

Hanneman (2001) esclarece que a análise de redes sociais (online) pode assumir uma abordagem mais sociocêntrica (social-centered) ou egocêntrica (ego-centered). Numa abordagem sociocêntrica, as redes são estudadas enfatizando-se a totalidade dos agentes da rede e possíveis sub-redes; o foco é a análise estrutural da comunidade social em interacção. Por sua vez, a abordagem egocêntrica ou ego-centrada debruça-se sobre a posição e o papel de cada agente ou de determinado actor, especificamente; o foco está no papel social que um indivíduo desempenha em função da sua posição na rede. Ambas as abordagens se revelam complementares, providenciando informações diversificadas mas mutuamente envolvidas, revelando-se vantajoso, na análise de redes sociais online a conjugação de ambas as metodologias de análise.

Redes Sociais em Análise
Apesar da abordagem inicial à temática deste post, não podia deixar de falar da web 2.0 e da potencialidade desta na educação. As redes sociais são locais onde os indivíduos se expressam, estabelecem várias relações e interagem com outras pessoas. Num ambiente de aprendizagem, onde é usada uma rede social, para além destas necessidades inerentes às redes sociais, e de acordo com a Teoria da Aprendizagem Social de Bandura, os indivíduos têm uma atitude de comprometimento de modo a atingirem os produtos de aprendizagem. Neste processo, os indivíduos criam uma rede extensa de contactos, ao mesmo tempo que mantém um núcleo duro. Nessa interação, surgem muitas oportunidades para se ter acesso ao saber e a informações úteis sobre o meio em que estão inseridos, aos quais não se tem acesso muitas das vezes no ambiente real. Em termos educativos, os comportamentos tidos nas redes sociais estão associados aos sucessos académicos e da aprendizagem, a partir da criação de um sistema de informação, contacto e suporte.

Inevitavelmente a análise em torno das redes remetem-nos para o conetivismo de Siemens e, neste sentido, temos um enorme potencial de estudo enquanto área emergente no e-learning. Alguns estudos já tem sido levados a cabo, mas focalizam-se essencialmente na aprendizagem formal. Deste modo, deixo uma apresentação sobre o uso do Facebook na aprendizagem e partilha do conhecimento, que se centra nos estudos de Yan Yu, Wen Tian, Vogel e Chi-Wai Kwok (2010) e Foon Hew (2011).



16 de julho de 2011

Design Based Research

Na reflexão tida anteriormente no post Seminário Doutoral - Terry Anderson discutia-se a possível associação do DBR ao paradigma pragmático da investigação, já que um dos pontos apontados em ambos os casos é o de mencionar que na investigação existe um baixo impacto na vida real. Na base filosófica do pragmatismo encontramos a aceitação de métodos mistos, tornando o investigador livre para escolher quais as técnicas e procedimentos que melhor se ajustam à sua realidade, embora seguindo um propósito e uma lógica capaz dessa combinação (Creswell, 2011). Este tipo de investigação ocorre sempre em ambiente real e tem em consideração todo o contexto envolvente. Se olharmos para o DBR, há muitas semelhanças no que alguns autores referem (Barab & Squire, 2004; Reeves, 2000) e aquilo que é referido sobre o pragmatismo. Na seguinte imagem, conseguimos entender a lógica do DBR (uma metodologia de desenvolvimento) em contraste com a investigação tradicional.

(Retirado de Reeves, 2000)

Wang e Hannafin (2005) referem que o DBR tem como características o ser (1) pragmático, (2) fundamentado, (3) interativo, iterativo e flexível, (4) integrador e (5) contextualizado.
(Retirado de Wang e Hannafin, 2005)

Quando olhamos para o DBR e a investigação-ação, encontramos muitas semelhanças entre ambos, e aquilo que distingue de forma clara um do outro está no papel assumido pelo investigador. Se na investigação-ação os investigadores são os próprios participantes e analisam as suas práticas, no DBR a investigação não ocorre no contexto de ação do investigador. Este é um especialista que vai apoiar os participantes nos design, construção, implementação e adoção de uma determinada iniciativa, num contexto real.

9 de julho de 2011

Grounded Theory e análise do discurso online

A Grounded Theory (GT) é um método de pesquisa [predominantemente] qualitativa, usada nas ciências sociais, e cuja ideia-chave é a geração (ou descoberta) de teoria, a partir dos dados obtidos dos participantes que experienciaram o processo (Creswell, 2007). Trata-se assim de, a partir de dados sistematicamente recolhidos e analisados, ir mais além do que fazer uma simples descrição de um fenómeno.

Os estudos em que se recorre à GT tendem a produzir conjuntos de dados que são principalmente, embora não exclusivamente, qualitativos (Taber, 2009) e podem envolver diferentes técnicas de recolha (entrevistas de vários tipos, observações, questionários, etc.). Não é portanto a técnica de recolha dos dados que define um estudo GT mas sim o modo como são selecionados e organizados com vista à construção de teorias fundamentadas nesses mesmos dados.

Enquanto noutras metodologias se considera vantajoso não renunciar, à partida, a qualquer utilização de teorias anteriores (mesmo quando se pretende gerar uma teoria, o que significa produzir um esquema de inteligibilidade), mesmo que venham a ser posteriormente abandonadas, na GT assume-se uma postura totalmente indutiva.

Para Charmaz (2006) e Taber (2009) a prática da GT implica:
  • Envolvimento simultâneo na recolha e na análise dos dados;
  • Construção analítica de códigos e categorias a partir dos dados e não a partir de hipóteses preconcebidas;
  • Uso do método de comparação constante em todas as fases da análise;
  • Desenvolvimento de teoria em cada etapa da recolha e da análise dos dados;
  • Escrita de memos ou memorandos para elaborar categorias, especificar as suas propriedades, definir as relações entre categorias e identificar lacunas;
  • Amostragem teórica, virada para a construção de teoria e não pela representatividade;
  • Revisão da literatura após o desenvolvimento de uma análise independente (a revisão da literatura é retardada).

Taber (2009) sublinha ainda o facto da GT não ter um delineamento prefixado, mas emergente, em virtude do pesquisador ter de tomar decisões sobre a recolha de dados durante o desenvolvimento do processo. Os estudos que usam uma abordagem GT apresentam em geral as seguintes características (Taber, 2009):
  • A revisão da literatura é retardada
  • Um desenho/delineamento emergente
  • Uma amostra teórica
  • Uma abordagem iterativa à análise (“comparação constante”)
  • Um cronograma aberto para a pesquisa (“saturação teórica”)

Na GT o investigador, guiando-se por alguma questão de pesquisa inicial recolhe um primeiro conjunto de dados que não deverá ser muito grande e começa os procedimentos de análise dos dados. Depois, guiando-se pelas direções emergentes desta análise o investigador recolherá o segundo conjunto de dados (amostragem teórica). O ciclo entre a recolha de dados e a análise continuará assim até que se atinja a saturação teórica, isto é, até que os novos dados não tragam novos elementos teóricos e apenas confirmem o que já se conhece. Na figura seguinte (Pandit, 1996) esquematiza-se este processo.



Análise do discurso online
A questão da análise de discurso online remete-nos para a análise de conteúdo, apesar de termos noção que no contexto online esta ação toma contornos muito próprios, e na sua análise temos que ter em consideração as suas especificidades. Por exemplo, é diferente fazer a análise de um blog e de um fórum, já que a forma como este está construído é diferente.

Segundo Osgood, (1985, cit. por Vala, 1986) na análise de conteúdo podemos encontrar três tipos: (1) análise de ocorrências, onde se analisa a frequência dos objetos, podendo definir, por exemplo, quais os temas principais; (2) análise avaliativa, que permite verificar que tipo de atitudes os sujeitos têm face a um determinado objecto, ou seja, verificar o que é positivo e negativo; (3) análise associativa onde o material analisado é visto como uma estrutura e o analista procura analisar o sistema dessa estrutura. Em qualquer um dos casos é necessário:
  • Delimitar os objectivos e definir um quadro teórico orientador da pesquisa;
  • Constituir um corpus;
  • Definir categorias;
  • Definir unidades de análise;
  • Quantificar.
Na GT temos procedimentos abertos onde encontramos um quadro de análise sem nada fixado e pomos em evidência as diferenças, as semelhanças e as transformações verificadas nessa análise. Importa realçar que nos procedimentos abertos há sempre uma linha orientadora, já que a investigação é feita com um objetivo e que especificamente na GT a questão da saturação (focada na imagem anterior) tem um peso muito relevante na forma como é feita a análise de conteúdo. Este tipo de procedimento leva a uma forma específica de categorização, já que se trata de uma categorização feita a posteriori. Aqui deve haver uma testagem da sua validade interna (Vala, 1986), uma vez que as limitações do método usado serão maiores (Ghiglione & Matalon, 2001).

Na análise de conteúdo temos três tipos de unidades (Ghiglione & Matalon, 2001; Vala, 1986):
  • Registo;
  • Contexto;
  • Numeração.
O primeiro diz respeito a um segmento de um determinado conteúdo e que pode ser uma unidade semântica (Ghiglione & Matalon, 2001; Vala, 1986), linguística, psicológica (Ghiglione & Matalon, 2001) e formal (Vala, 1986).

O segundo tipo de unidade é a de contexto; esta surge da análise das unidades de registo e é relativa ao segmento mais largo da unidade de registo (e.g. se a unidade de registo for uma palavra, a unidade de contexto poderá ser a frase e assim sucessivamente).

Finalmente a unidade de enumeração tem como função a quantificação; neste caso específico poderemos encontrar unidades geométricas e aritméticas (Ghiglione & Matalon, 2001; Vala, 1986). As geométricas dizem respeito à análise da altura, largura, entre outras unidades geométricas, relativas a um determinado conteúdo, enquanto que, com a aritmética, conseguimos avaliar a frequência de uma categoria. Ghiglione e Matalon (2001) alertam para a ausência de neutralidade na escolha de um sistema de numeração, já que, por exemplo, nem sempre é sustentável inferir a importância que uma palavra tem para um emissor, só por esta surgir com muita frequência o que implica a introdução de outras medidas (e.g. intensidade).

A quantificação é, de facto, a última fase da análise de conteúdo, que pode seguir três técnicas de análise diferentes: ocorrência, avaliativa e estrutural. A análise de ocorrência visa quantificar o interesse por determinados conteúdos. Na análise avaliativa procura-se analisar as atitudes face a um determinado objeto. A última análise pretende verificar inferências sobre a organização do sistema de pensamento.






A apresentação dos colegas Inês Messias, João Paz e Katja Clara sobre a presente temática.


18 de junho de 2011

Métodos interpretativos e a entrevista online

Antes de partir para a análise dos métodos interpretativos, importa fazer uma pequena distinção entre paradigma, metodologia, método e técnica (de acordo com Coutinho, 2011). Partindo deste último, a técnica é a vertente mais prática destes 4 conceitos. O método é o conjunto de técnicas usadas para um determinado fim. A metodologia é um conceito mais teórico que descreve e analisa os métodos e o paradigma é o sistema de princípios, valores e crenças que orientam a metodologia.

Os métodos interpretativos (associados a outros termos como por exemplo métodos qualitativos) alicerçam-se na fenomenologia, na etnometodologia e no interacionismo simbólico. Aquilo que se salienta neste tipo de abordagem é o cariz indutivo, onde o investigador procura interpretar os dados que recolhe a partir do diálogo, do questionamento e da interação com os participantes, extraindo significados do contexto específico, com as suas características filosóficas, históricas, culturais, sociais e psicológicas. Esta interpretação nunca pode pôr de lado o próprio investigador, porque ele experiencia igualmente uma história e um contexto social específico. Assim, o investigador dá sentido e estrutura aos significados que os outros sujeitos apresentaram.

A forma como a perspectiva interpretativa se liga ao e-research leva, inevitavelmente a algumas adaptações, já que estamos a operar num contexto que tem características próprias, apesar de podermos encontrar muitos pontos de ligação com aquela que é a investigação offline.
Friesen (2008) refere que os desafios dos investigadores na área do e-learning passam por repensar a forma como se investiga, conseguir acompanhar novos desenvolvimentos teóricos e pela reflexão dos rápidos desenvolvimentos sociais, técnicos e configurações. Por seu turno, Anderson e Kanuka (2003) alertam para os constrangimentos económicos, de segurança e ética existentes no e-research, o que obriga a uma permanente reflexão das técnicas de investigação.
No e-research encontramos múltiplas técnicas de recolha de dados (Anderson & Kanuka, 2003):
  • Questionários online;
  • Entrevistas mediadas por computador via email e conferência;
  • Focus groups a partir de vídeo e áudio conferência mediada pela Internet;
  • Entrevista por telefone mediada pela Internet;
  • Análise de transcrições de texto, de atividades de aprendizagem e sociais;
  • Análise de comportamentos sociais em Ambientes de Realidade Virtual;
  • Avaliação do conhecimento online.

Entrevista Online
Independentemente do meio de realização da entrevista, este instrumento de recolha de dados, enquanto instrumento de interação social, tem um papel relevante para o desenvolvimento da pesquisa qualitativa por ser o principal instrumento empírico a favor desse tipo de abordagem.
Apesar de haver algumas semelhanças com a entrevista presencial, há aspetos que as diferenciam (Costa, Dias & Luccio, 2009), tais como:
  • A formulação das questões depende das próprias características da própria ferramenta online;
  • Há maior flexibilidade em termos de horários e de local;
  • A forma de consentimento da gravação da entrevista;
  • Podem ser interrompidas e retomadas posteriormente sem que sua qualidade seja comprometida.
Deste modo, algumas ferramentas para realização da entrevista online (síncrono e assíncrono) são:
  • Skype;
  • MSN;
  • e-mail;
  • chat;
  • ICQ;
  • Google Talk;
  • Second life.
Há que analisar as vantagens e limitações de cada uma das ferramentas, de modo a escolher qual melhor se adequa ao nosso propósito.

16 de abril de 2011

Ética e e-Research

As questões éticas já foram abordadas neste webportfólio, contudo, agora centram-se especificamente no e-research.

Kanuka e Anderson (2007) focam 3 incertezas nesta área:
  • Consentimento na participação;
  • Propriedade privada ou pública;
  • Confidencialidade e anonimato.
Uma das grandes questões que se coloca na internet passa por saber determinar quem é o proprietário do que se encontra neste vasto mundo online (com as divulgações constantes da wikileaks, ficamos com a sensação falaciosa de que tudo é do foro público). Se tivermos um blog como este e se inserirmos uma mensagem a avisar que poderá haver um tratamento de dados às mensagens aqui colocadas, será suficiente para termos o consentimento de quem escreve essa mensagem? E a Google, de que modo é que é proprietária deste espaço e em que termos? Este é um campo muito recente e acaba por ser natural a existência de várias e largas questões pouco consensuais.

O investigador terá que ter presente as questões de privacidade (controlo do acesso aos dados por terceiros), de confidencialidade (segurança dos dados) e o anonimato (não se conseguir identificar uma pessoa, a partir das características que constam nos dados). Como vemos, este é um grande desafio quando falamos em dados que estão depositados em ambientes online, na medida que nem sempre se consegue assegurar a garantia destes pressupostos, quando temos pessoas capazes de invadir e contaminar o sistema (como os hackers).

Quando fazemos recolha de dados online temos que ter em atenção a estas problemáticas e devemos passar sempre um conjunto de informações aos participantes:
  • o propósito;
  • a identidade do investigador;
  • a duração do estudo;
  • a natureza da participação;
  • os procedimentos da investigação.
Um código deontológico é bom para que o investigador tenha uma ação correta. Por outro lado, a reflexão sobre os seus comportamentos deve estar sempre presente porque o código deontológico poderá não ser adequado a contextos emergentes. Afinal no e-research estamos a falar de um contexto diferente do presencial, que tem as suas particularidades e onde se constata a tendência natural de pegar naquele que é o comportamento ético que se deve ter presencialmente para aplicar ao virtual (o que muitas vezes poderá não ser adequado). Há que conseguir manter um equilíbrio entre estes dois pólos: o código deontológico e o sentido crítico do investigador.

Investigação em EaD

Quando uma pessoa se inicia na investigação de um determinado ramo do saber, é importante ter conhecimento de quais são as linhas orientadoras desse mesmo ramo. Em EaD a maioria do tipo de investigações têm tido um carácter qualitativo, o que terá alguma lógica, já que estamos a falar de um ramo que se encontra em vários pontos numa fase inicial e que, devido às constantes transformações a que assistimos, leva à existência de estudos com caráter mais exploratório. Contudo, também se tem assistido a vários avanços no cimentar de teorias que dêem suporte a investigações com maior pendor quantitativo. Um dos exemplos que podemos encontrar é o Community of Inquiry (CoI) Model, que tem um instrumento testado e validado, que analisa as suas três presenças numa ambiente de aprendizagem em comunidade.

Quando olhamos para o estudo Delphi levado a cabo por Zawacki-Richter (2009), este identifica 15 áreas distribuídas por três níveis. Assim, ao nível macro temos:
  1. Acesso, Equidade e Ética;
  2. Globalização da EaD e Aspectos Transversais na Cultura;
  3. Sistemas de EaD e Instituições;
  4. Modelos e Teorias;
  5. Métodos de Investigação na EaD e Transferência do Conhecimento
No que diz respeito ao nível meso temos como áreas de investigação:
  1. Gestão e Organização;
  2. Custos e Benefícios;
  3. Tecnologia Educacional;
  4. Inovação e Mudança;
  5. Desenvolvimento Profissional e Suporte Institucional;
  6. Serviços de Suporte ao Estudante;
  7. Quality Assurance.
E ao nível micro:
  1. Design Instrucional;
  2. Interacção e Comunicação nas Comunidades de Aprendizagem;
  3. Características dos Estudantes.
Destas áreas, algumas têm tido um maior enfoque (Macro - área 1; Meso - áreas 1, 4, 5, 6 e 7; Micro - todas as áreas) e outras mais negligenciadas. Das áreas mais negligenciadas é interessante verificar que uma delas é a que reporta aos 'custos e benefícios'. De facto este é um elemento que qualquer instituição educativa deveria ter como prioridade na sua análise, para que haja graus mais elevados de eficácia e eficiência. Contudo, não nos podemos esquecer que as instituições educativas devem ter preocupações centradas no lado pedagógico e devem deixar para segundo plano as questões financeiras, sem perder a noção que têm que ser organizações sustentáveis.

Deste modo, um investigador deve estar ciente das áreas de estudo e, entre várias variáveis associadas ao processo de decisão do caminho a tomar, deve estar atento às áreas emergentes, que permitam um forte contributo para o avanço científico na EaD. Contudo, na sua ação investigativa também deve ter um outro cuidado: publicar.
Se tivermos em consideração a famosa expressão 'publish ou perish', o investigador tem que ter noção das revistas que, na sua área, têm maior fator de impacto. O estudo de Zawacki-Richter, Bäcker e Vogt (2009) analisa precisamente as cinco revistas com maior expressão na EaD. Os artigos destas revistas centram-se maioritariamente nas áreas micro identificadas acima. Em termos de destaque de uma metodologia em particular, não são encontradas diferenças (apesar de determinados jornais darem maior relevo a um tipo específico de metodologia de investigação, por exemplo no AJDE os artigos com metodologias quantitativas tinham um peso de 63%). Aquilo que se encontra igualmente neste estudo é a existência de uma maior envolvência em projetos de colaboração internacional. Assim, o investigador ao ter noção do que as revistas valorizam, pode e deve canalizar os seus artigos para aquelas que são mais adequadas aos seus estudos. Mas as escolhas do investigador não devem estar dependentes destes aspetos; acima de tudo uma boa investigação deve partir de uma boa teoria, mas principalmente de uma boa questão de investigação.

Seminário Doutoral - Terry Anderson

Durante os dias 28 de Março e 1 de Abril tivemos a oportunidade de ouvir o Professor e Investigador Terry Anderson (TA) da Athabasca University no seminário doutoral levado a cabo na FCT - UNL.

No primeiro dia houve a preocupação de nos centramos em alguns estudos que abordavam as temáticas de investigação e os jornais científicos de EaD (este tópico será aprofundado neste link).

Na segunda sessão, com a temática 'Design-Based Research' (DBR), procurou-se identificar quais os paradigmas de investigação ligados à educação, segundo a perspectiva de TA. De notar que habitualmente vemos esta discussão centrada em dois grandes paradigmas (o positivista e o interpretativo). Contudo, neste seminário foram identificados quatro paradigmas de investigação. Os dois primeiros (positivismo e interpretativo) não oferecem grandes dúvidas, e o terceiro que foi apresentado (sócio-crítico ou reivindicatório e participatório) também parece ser consensual na comunidade científica. TA considera, adicionalmente, que na educação podemos identificar um quarto paradigma de investigação: o DBR (a metodologia associada a este será aprofundado posteriormente, uma vez que no contrato de aprendizagem está previsto um momento dedicado a esta metodologia). Esta identificação feita por TA parece ter algum fundamento, na medida em que temos quem identifique como tendência actual a integração metodológica (Coutinho, 2011), que centra a discussão mais ao nível metodológico e técnico da investigação do que focada nos aspectos teóricos e epistemológicos. A visão identificada em Coutinho (2011) parece estar mais clara em Creswell (2010). O autor fala de uma concepção filosófica pragmática na investigação, onde deve haver a preocupação na resolução prática do problema no mundo real, integrando métodos mistos na sua abordagem para melhor se ajustar às necessidades e aos propósitos da investigação. Assim, parece-nos que o DBR integra-se no paradigma pragmático, ficando "no ar" a questão se fará sentido falarmos do DBR como paradigma de investigação na educação, ou se se falará apenas de um paradigma pragmático (ou integrador das metodologias).

No terceiro dia fez-se uma passagem pelos grandes teóricos da EaD e da importância que a identificação de uma teoria tem para levar a 'bom porto' uma investigação, centrando-nos em particular no trabalho levado a cabo por Garrison e colaboradores no Community of Inquiry (CoI) Model. É evidente que num trabalho de cariz investigativo, tenha que haver um suporte teórico. Em EaD podemos ir 'beber' a várias fontes do conhecimento como a Educação, a Psicologia, as Tecnologias de Informação e Comunicação, as Ciências da Computação, entre outras, mas é também necessário olhar para as especificidades da EaD. Nesse sentido TA identificou as três grandes teorias, desenvolvidas por Holmberg (Theory of guided didactic conversation), Peters (Modelo industrial na EaD) e Moore (Distância transacional). Para além destes fundadores das teorias da EaD, TA explorou o trabalho de outros autores com relevância na área: Garrison (educação à distância vs educação a distância), Gunawardena (Influência cultural em EaD), Anderson (Teorema do Equivalência na Interação), Siemens (Conetivismo), Dron (Taxonomy of the Many). Para finalizar este dia de trabalho, TA dedicou-se à exploração do CoI, modelo desenvolvido inicialmente por Garrison, Anderson e Archer, alvo de vários estudos em muitos contextos ligados à EaD.

A discussão entre vários especialistas portugueses e TA sobre a temática do e-learning ficou para o quarto dia. Neste painel houve a preocupação por parte de TA de explorar, de acordo com o mesmo, as 3 gerações pedagógicas ligadas à EaD: (1) Comportamentalista/Cognitivista, (2) Construtivista e (3) Conetivista. A primeira geração ligada aos instrucionismo tem como características a existência de estruturas rígidas, uma grande distância transacional, a escalabilidade, poucas possibilidades de escolha por parte dos estudantes e baixos níveis de insegurança por parte destes últimos. Já a segunda geração, associada ao conceito de comunidade de aprendizagem, está fortemente dependente do grupo e dos processos de interação entre os seus elementos. Os modelos ligados ao construtivismo não permitem a escalabilidade que se consegue no comportamentalismo/cognitivismo, mas apostam muito mais em ferramentas colaborativas. Finalmente a terceira geração está relacionada com o conceito de rede, o que representa maior flexibilidade do que um grupo tradicional. O conetivismo tem o controlo localizado no próprio estudante, dando ao conhecimento um carácter emergente, distribuído, caótico, fragmentado, não sequencial, contextualizado.

O último dia debateu-se o conceito de 'Open Scholarship'. Este conceito ligado habitualmente ao princípio da 'bolsa de estudo' teve uma perspectiva de discussão diferente ligada assim aos recursos educativos abertos, à investigação e publicação aberta e ao ensino aberto. De fato toda a discussão em torno desta temática gerou-se em torno da gratuitidade de tudo o que estava relacionado com o ensino, a aprendizagem, a investigação e a publicação desta última e das consequências desta abertura e transparência. Este é, sem sombra de dúvida, um assunto muito polémico, porque envolve uma alteração paradigmática na sociedade. Por defeito as pessoas são conservadoras, seguem o movimento de massas e arriscam pouco por caminhos desconhecidos. A potencialidade deste conceito é enorme, nomeadamente no que diz respeito à acessibilidade por parte de públicos que não as elites. Certamente que o 'Open Scholarship' tem um terreno vasto a conquistar, mas a grande dúvida deixada por TA diz respeito às fronteiras e ao tipo de fronteira, porque é diferente termos um muro de betão com cinco metros de altura à nossa frente ou uma vedação em estacas de madeira onde, inclusive, nos podemos sentar a olhar para dentro do terreno.

Deste seminário surgiram dois produtos, um criado colaborativamente com o colega Nelson Jorge (Link) e uma apresentação em Prezi.



5 de abril de 2011

Reinício

Depois de um período prolongado sem colocar mensagens (apesar de ter respondido a alguns comentários), estou de volta. :)

Este espaço vai dar continuidade às anteriores análises, resumos, pesquisas e reflexões na área da investigação, mas agora mais centradas no e-research.