Durante os dias 28 de Março e 1 de Abril tivemos a oportunidade de ouvir o Professor e Investigador Terry Anderson (TA) da Athabasca University no seminário doutoral levado a cabo na FCT - UNL.
No primeiro dia houve a preocupação de nos centramos em alguns estudos que abordavam as temáticas de investigação e os jornais científicos de EaD (este tópico será aprofundado neste link).
Na segunda sessão, com a temática 'Design-Based Research' (DBR), procurou-se identificar quais os paradigmas de investigação ligados à educação, segundo a perspectiva de TA. De notar que habitualmente vemos esta discussão centrada em dois grandes paradigmas (o positivista e o interpretativo). Contudo, neste seminário foram identificados quatro paradigmas de investigação. Os dois primeiros (positivismo e interpretativo) não oferecem grandes dúvidas, e o terceiro que foi apresentado (sócio-crítico ou reivindicatório e participatório) também parece ser consensual na comunidade científica. TA considera, adicionalmente, que na educação podemos identificar um quarto paradigma de investigação: o DBR (a metodologia associada a este será aprofundado posteriormente, uma vez que no contrato de aprendizagem está previsto um momento dedicado a esta metodologia). Esta identificação feita por TA parece ter algum fundamento, na medida em que temos quem identifique como tendência actual a integração metodológica (Coutinho, 2011), que centra a discussão mais ao nível metodológico e técnico da investigação do que focada nos aspectos teóricos e epistemológicos. A visão identificada em Coutinho (2011) parece estar mais clara em Creswell (2010). O autor fala de uma concepção filosófica pragmática na investigação, onde deve haver a preocupação na resolução prática do problema no mundo real, integrando métodos mistos na sua abordagem para melhor se ajustar às necessidades e aos propósitos da investigação. Assim, parece-nos que o DBR integra-se no paradigma pragmático, ficando "no ar" a questão se fará sentido falarmos do DBR como paradigma de investigação na educação, ou se se falará apenas de um paradigma pragmático (ou integrador das metodologias).
No terceiro dia fez-se uma passagem pelos grandes teóricos da EaD e da importância que a identificação de uma teoria tem para levar a 'bom porto' uma investigação, centrando-nos em particular no trabalho levado a cabo por Garrison e colaboradores no Community of Inquiry (CoI) Model. É evidente que num trabalho de cariz investigativo, tenha que haver um suporte teórico. Em EaD podemos ir 'beber' a várias fontes do conhecimento como a Educação, a Psicologia, as Tecnologias de Informação e Comunicação, as Ciências da Computação, entre outras, mas é também necessário olhar para as especificidades da EaD. Nesse sentido TA identificou as três grandes teorias, desenvolvidas por Holmberg (Theory of guided didactic conversation), Peters (Modelo industrial na EaD) e Moore (Distância transacional). Para além destes fundadores das teorias da EaD, TA explorou o trabalho de outros autores com relevância na área: Garrison (educação à distância vs educação a distância), Gunawardena (Influência cultural em EaD), Anderson (Teorema do Equivalência na Interação), Siemens (Conetivismo), Dron (Taxonomy of the Many). Para finalizar este dia de trabalho, TA dedicou-se à exploração do CoI, modelo desenvolvido inicialmente por Garrison, Anderson e Archer, alvo de vários estudos em muitos contextos ligados à EaD.
A discussão entre vários especialistas portugueses e TA sobre a temática do e-learning ficou para o quarto dia. Neste painel houve a preocupação por parte de TA de explorar, de acordo com o mesmo, as 3 gerações pedagógicas ligadas à EaD: (1) Comportamentalista/Cognitivista, (2) Construtivista e (3) Conetivista. A primeira geração ligada aos instrucionismo tem como características a existência de estruturas rígidas, uma grande distância transacional, a escalabilidade, poucas possibilidades de escolha por parte dos estudantes e baixos níveis de insegurança por parte destes últimos. Já a segunda geração, associada ao conceito de comunidade de aprendizagem, está fortemente dependente do grupo e dos processos de interação entre os seus elementos. Os modelos ligados ao construtivismo não permitem a escalabilidade que se consegue no comportamentalismo/cognitivismo, mas apostam muito mais em ferramentas colaborativas. Finalmente a terceira geração está relacionada com o conceito de rede, o que representa maior flexibilidade do que um grupo tradicional. O conetivismo tem o controlo localizado no próprio estudante, dando ao conhecimento um carácter emergente, distribuído, caótico, fragmentado, não sequencial, contextualizado.
O último dia debateu-se o conceito de 'Open Scholarship'. Este conceito ligado habitualmente ao princípio da 'bolsa de estudo' teve uma perspectiva de discussão diferente ligada assim aos recursos educativos abertos, à investigação e publicação aberta e ao ensino aberto. De fato toda a discussão em torno desta temática gerou-se em torno da gratuitidade de tudo o que estava relacionado com o ensino, a aprendizagem, a investigação e a publicação desta última e das consequências desta abertura e transparência. Este é, sem sombra de dúvida, um assunto muito polémico, porque envolve uma alteração paradigmática na sociedade. Por defeito as pessoas são conservadoras, seguem o movimento de massas e arriscam pouco por caminhos desconhecidos. A potencialidade deste conceito é enorme, nomeadamente no que diz respeito à acessibilidade por parte de públicos que não as elites. Certamente que o 'Open Scholarship' tem um terreno vasto a conquistar, mas a grande dúvida deixada por TA diz respeito às fronteiras e ao tipo de fronteira, porque é diferente termos um muro de betão com cinco metros de altura à nossa frente ou uma vedação em estacas de madeira onde, inclusive, nos podemos sentar a olhar para dentro do terreno.
Deste seminário surgiram dois produtos, um criado colaborativamente com o colega Nelson Jorge (Link) e uma apresentação em Prezi.
Sem comentários:
Enviar um comentário