2 de maio de 2008

Recolha de Dados - O Questionário



Entre os vários instrumentos usados para a recolha de dados, os questionários são, provavelmente, um dos instrumentos mais usados mundialmente para inquirir pessoas.

Uma primeira questão a colocar será: "Em que situações devo usar este instrumento?" Normalmente associamos o questionário a abordagens quantitativas, onde procuramos testar hipóteses. Contudo, o uso de questionários é um pouco mais abrangente e, como tal, apresenta layouts e organizações diferentes, consoante o tipo de uso que lhe queremos dar.

Ghiglione e Matalon (2001) identificam 4 grandes objectivos no uso de questionários.
1) estimar certas grandezas absolutas, como por exemplo despesas ao longo do ano, percentagem de pessoas que usam um produto, etc;
2) estimar grandezas relativas, como por exemplo fazer estimativas para determinadas proporções da população;
3) descrever uma população ou subpopulação, como por exemplo identificar as características dos leitores dos jornais de uma população que queremos estudar;
4) verificar hipóteses, relacionando duas ou mais variáveis.

Independentemente do uso que lhes queiramos dar, há um aspecto fundamental na construção dos questionários: a formulação das questões. Para Ghiglione e Matalon (2001), qualquer erro ou ambiguidade associados à construção do questionário, levará a conclusões erradas. Assim, é aconselhável que as questões sejam reformuladas de modo a que sejam perfeitamente entendidas pelo inquirido. Contudo, a reformulação está sempre limitada àquilo que queremos analisar em específico. Ainda no que diz respeito à construção das questões, de um modo geral, encontramos dois tipos de questões: abertas e fechadas. Segundo Ghiglione e Matalon (2001), as questões fechadas podem ter várias formas e permitem uma análise estatística dos dados recolhidos. Já o uso de questões abertas obriga à análise de conteúdo, uma tarefa mais trabalhosa do que aquela associada às questões fechadas.

A escolha sobre se devemos ter um questinário com questões abertas, fechadas ou ambas é bastante variada. Esta escolha prende-se com vários aspectos, entre os quais, 1) os objectivos da investigação, 2) a capacidade que temos para fechar as questões, de modo a analisar de forma mais dissecada as variáveis pretendidas; 3) o tipo de impacto que queremos criar sobre o inquirido e a própria lógica do questionário (e.g. no início podemos querer saber qual a propensão que uma pessoa tem para comprar smarties e no final do questionário, após um conjunto de questões sobre este tema pergunta-se novamente qual a propenção de modo a analisar se essa atitude mudou; se usarmos questões abertas no início podemos levar o inquirido a centrar-se nas problemáticas que queremos analisar, mostrando que a sua opinião é importante, para depois passarmos a questões fechadas).

Este último ponto remete-nos para a questão da ordem como colocamos as questões. Como foi focalizado num dos exemplos, a ordem como colocamos as questões pode sugerir diferentes tipos de resposta, logo este deve ser outro aspecto fundamental na construção dos questionários.

A pré-testagem do questionário, apesar de não ser um passo obrigatório, é um estágio muito importante, que permite a validação do instrumento através da reformulação necessária para que se proceda à construção final (mesmo quando estivemos atentos a todos os aspectos da sua construção, referidos anteriormente). A pré-testagem deve ser feita com indivíduos que façam parte da população ou sub-população que queremos analisar, ou então elementos que sejam muito semelhantes.

De facto o questionário tem que ser construído de acordo com o tipo de população que vamos investigar, de modo a que esta seja capaz de compreender cada uma das questões, assim como as questões colocadas não devem suscitar recusas devido ao seu conteúdo, por parte de quem responde.

Para concluir, é necessário mencionar um aspecto já focado: a associação usual que se faz dos questionários à investigação quantitativa. De facto, a recolha de dados de questionários com perguntas fechadas permite uma análise estatística directa das variáveis que pretendemos investigar. Almeida e Freire (2003) referem que podemos encontrar hipóteses dedutivas e indutivas. Aquando da análise sobre os métodos dedutivos e indutivos, concluiu-se que no primeiro caso, e aplicando ao ponto aqui em reflexão, as hipóteses surgem do campo teórico enquanto que no caso das hipóteses indutivas, estas são provenientes da prática diária e da observação da realidade que nos rodeia. Os mesmos autores ainda referem que o nível de concretização das hipóteses ainda se pode dividir em: 1) conceptual (relação entre variáveis ou entre uma ou mais teorias); 2) operativas (quando há indicação das operações necessárias para a sua observação; 3) e estatística (relação esperada em termos estatísticos, que são apresentadas pela hipótese alternativa - aquela que tem a relação que queremos ver confirmada no fenómeno analisado - e pela hipótese nula - aquela que se opõe à hipótese alternativa). Contudo, e como também já foi referido, os questionários não servem apenas para este fim.

Recursos usados:

Guide to the Design of Questionnaires

Almeida, L. & Freire, T. (2003). Metodologia da Investigação em Psicologia e Educação. Braga: Psiquilibrios.

Ghiglione, R. & Matalon, B. (2003). O Inquérito: teoria e prática. Oeiras: Celta Editora

14 comentários:

Teresa disse...

gostaria de saber como poderei fazer uma colecta de dados através de questionário, aplicado a uma população de jovens entre os 18 e 35 anos, com o intuito de realizar um levantamento de necessidades desses mesmos jovens numa determinada comunidade, já que não é possivel ter acesso aos seus endereços postais, por forma a enviá-los via correio... como poderei fazê-lo? haverá uma metodoligia que me permita fazer esta colecta??? Obrigada. Teresa Paulino.

Pedro Cabral disse...

Olá Teresa,
antes demais, que tipo de investigação está a fazer? preciso de mais informação de forma a poder ajuda-la.
Pedro

Unknown disse...

Olá a todos....gostei muito do artigo e dá-me jeito para a minha investigação.A minha dúvida é : O público a quem testo o meu questionário tem de ser em igual número ao público que vou posteriormente passar o questionário? Se pretendo passar o questionário a 30 psicólogos das escolas tenho que o testar também em 30 psicólogos?Não sei se ao testar só a 10 ou 15 psicólogos consigo visualizar a eficácia do questionário? que me dizem? Conhecem algum autor que fale sobre isso?Obrigada

Pedro Cabral disse...

Olá Vera,
se pretende a pré-testagem do instrumento, esta servirá apenas para corrigir alguns aspectos que possam estar menos claros na formulação das questões/afirmações, ou mesmo de ordenação das questões. Na pré-testagem importa que passe a essas tais 10 a 15 pessoas, mas que elas escrevam ao lado uma crítica a cada uma das questões e ao questionário no geral. A pré-testagem serve exactamente para limar o instrumento.
Se se refere a questões de validação e de fidedignidade do instrumento, estamos a falar de outra ponto. Nessa situação é importante que o questionário seja aplicado a uma amostra significativa da população que quer analisar (acima de 30 já começa a ser um número interessante), já depois do questionário ser pré-testado, e valida o intrumento na análise que vai fazer. Assim, nos resultados pode dar a indicação da credibilidade dos dados recolhidos.
Relativamente a bibliografia, neste blog encontra alguma interessante.
Espero que tenha ajudado.

Unknown disse...

Olá! Sim obrigada fiquei bastante mais esclarecida. Já consultei a bibliografia e é bastante interessante. Deixo aqui mais dois livros muito bons sobre os questionários:

Hill, M. M. & Hill, A. (2002). Investigação por questionário. Edições Sílabo.

Sousa, A. (2005). Investigação em Educação. Livros horizonte: Lisboa.

Unknown disse...

Ola!encontro-me a realizar um estudo, no qual analiso a qualidade de vida nas mulheres portuguesas, e como tal, estou a utilizar como método de avaliação questionários já validados. Contudo, gostaria de saber qual(ais) procedimeto(s) estatístico que posso aplicar neste estudo?!ja agora, o estudo é observacional transversal! obrigada

Pedro Cabral disse...

Olá Ana,
se já há um questionário validado, quer dizer com isso que já foram efectuados outros estudos iguais àquele que está a fazer, certo? Se assim for e houver registo de todos os procedimentos usados em estudos anteriores, julgo que seria importante seguir as mesmas metodologias estatísticas usadas nesses estudos. Por outro lado, se está na presença de um estudo transversal, tem que pegar nos dados anteriores e fazer uma análise comparativa. Para escolher o teste estatístico peço que veja o seguinte link, já que procedi a uma alteração recente de modo a poder responder à sua dúvida:
http://pedrocabral700936.blogspot.com/2008/06/anlise-de-dados-quantitativos.html

Teresa disse...

olá!Sou Teresa Paulino e gostaria de voltar a pedir a sua colaboração.

A população alvo do meu estudo tem um total de 3080 sujeitos, contudo, apesar do grande esforço, apenas consegui a participação de 140 sujeitos (cerca de 4,5% do total da população). O método de recolha de dados foi bastante dificil, dada a fraca colaboração que obtive (abordagem na rua). a minha dúvida, prende-se com a representatividade da população pelos dados que obtive. estou a realizar um estudo de carácter qualitativo, em que faço uma triangulação de informação (dados da população em estudo, dados junto de profissionais que trabalham a nivel da intervebção junto da população em estudo e background teórico). ACHA QUE COM APENAS 140 PARTICIPANTES NUMA POPULAÇÃO DE 3080, CONSIGO ATRIBUIR CONSISTENCIA AOS DADOS OBTIDOS???
Desde já obrigada.
Aguardando resposta,

Teresa Paulino.

Lúcia Lima disse...

Olá Pedro,

Gostaria de saber como poderei fazer um questionário para técnicas de investigação cientifica, ou seja qual o que pretendo saber é qual a função de um gestor cultural, como poderei realizar este estudo.

Unknown disse...

Estou definido o meu instrumento de pesquisa...um questionário quantitativo, já validado na Australia sobre capital social... as dúvidas são:

- quando se utiliza um questionário validado...é possivel fazer adaptações na questões de pesquisa?

- podem ser suprimidos algumas perguntas do questionario? ou Acrescentadas?

- se o questionario validado se utiliza de uma escala likert de 4 pontos, posso optar por uma de 6 pontos por exemplo????

Pedro Cabral disse...

Cara Teresa Paulino,
de facto não lhe sei responder com a exactidão necessária. À partida temos ai um pequeno problema relativamente à forma como obteve a sua amostragem. O número que tem parece ser bom, mas o problema que coloco prende-se com o facto de não haver aleatoridade na amostra, já que a sua amostra esteve dependente daqueles que encontravam na rua.
duas perguntas:
1 - Qual é a sua população;
2 - Em que pontos de rua é que recolheu a sua amostra?

Pedro Cabral disse...

Olá Lúcia Lima,
os questonários podem ser muito diferentes...Já alguma investigação na área? se sim pode basear-se nessas investigações. Para a construção de questionários aconselho a leitura do livro "O Inquérito" que consta na bibliografia do site.
Boa investigação.

Pedro Cabral disse...

Cara Kadígia,
ter um questionário já criado é óptimo.
Traduza-o, aplique a algumas pessoas para saber se sugere algumas dúvidas nos seu itens, faça as correcções necessárias.
Sempre pode fazer as alterações que sugere nos outros dois pontos, mas ai vai desvirtuar o questionário já existente. A não ser que as questões que quer suprimir não são relevantes na sua investigação e as que quer acrescentar já o serão. Pode aumentar a sua escala, sim. Depois de fazer os procedimentos que disse no início (pré-testagem do instrumento), poderá aplicá-lo à população que pretende investigar e validá-lo.
[ ] Pedro Cabral

YeuxdeFemme disse...

Olá Pedro,

Gostava de saber se tem algum exemplar de um projecto de tese, referente à validação de um questionário. Se tiver, é possível enviar-me?
O meu objectivo consiste na validação de um questionário sobre hábitos alimentares. Esse questionário é uma tradução/adaptação ao contexto português de um questionário americano já existente (ainda que esse não seja validado).
Contudo, estou com alguma dificuldade na elaboração da proposta de trabalho, porque segundo a pesquisa que fiz é necessário muita estatística e eu sou completamente leiga nessa área.
Pode igualmente aconselhar-me alguma bibliografia nesta área (direccionada para a validação de um questionário)?
Muito obrigada pela sua atenção.
Cumprimentos,
Rita Regalo