16 de abril de 2011

Ética e e-Research

As questões éticas já foram abordadas neste webportfólio, contudo, agora centram-se especificamente no e-research.

Kanuka e Anderson (2007) focam 3 incertezas nesta área:
  • Consentimento na participação;
  • Propriedade privada ou pública;
  • Confidencialidade e anonimato.
Uma das grandes questões que se coloca na internet passa por saber determinar quem é o proprietário do que se encontra neste vasto mundo online (com as divulgações constantes da wikileaks, ficamos com a sensação falaciosa de que tudo é do foro público). Se tivermos um blog como este e se inserirmos uma mensagem a avisar que poderá haver um tratamento de dados às mensagens aqui colocadas, será suficiente para termos o consentimento de quem escreve essa mensagem? E a Google, de que modo é que é proprietária deste espaço e em que termos? Este é um campo muito recente e acaba por ser natural a existência de várias e largas questões pouco consensuais.

O investigador terá que ter presente as questões de privacidade (controlo do acesso aos dados por terceiros), de confidencialidade (segurança dos dados) e o anonimato (não se conseguir identificar uma pessoa, a partir das características que constam nos dados). Como vemos, este é um grande desafio quando falamos em dados que estão depositados em ambientes online, na medida que nem sempre se consegue assegurar a garantia destes pressupostos, quando temos pessoas capazes de invadir e contaminar o sistema (como os hackers).

Quando fazemos recolha de dados online temos que ter em atenção a estas problemáticas e devemos passar sempre um conjunto de informações aos participantes:
  • o propósito;
  • a identidade do investigador;
  • a duração do estudo;
  • a natureza da participação;
  • os procedimentos da investigação.
Um código deontológico é bom para que o investigador tenha uma ação correta. Por outro lado, a reflexão sobre os seus comportamentos deve estar sempre presente porque o código deontológico poderá não ser adequado a contextos emergentes. Afinal no e-research estamos a falar de um contexto diferente do presencial, que tem as suas particularidades e onde se constata a tendência natural de pegar naquele que é o comportamento ético que se deve ter presencialmente para aplicar ao virtual (o que muitas vezes poderá não ser adequado). Há que conseguir manter um equilíbrio entre estes dois pólos: o código deontológico e o sentido crítico do investigador.

Investigação em EaD

Quando uma pessoa se inicia na investigação de um determinado ramo do saber, é importante ter conhecimento de quais são as linhas orientadoras desse mesmo ramo. Em EaD a maioria do tipo de investigações têm tido um carácter qualitativo, o que terá alguma lógica, já que estamos a falar de um ramo que se encontra em vários pontos numa fase inicial e que, devido às constantes transformações a que assistimos, leva à existência de estudos com caráter mais exploratório. Contudo, também se tem assistido a vários avanços no cimentar de teorias que dêem suporte a investigações com maior pendor quantitativo. Um dos exemplos que podemos encontrar é o Community of Inquiry (CoI) Model, que tem um instrumento testado e validado, que analisa as suas três presenças numa ambiente de aprendizagem em comunidade.

Quando olhamos para o estudo Delphi levado a cabo por Zawacki-Richter (2009), este identifica 15 áreas distribuídas por três níveis. Assim, ao nível macro temos:
  1. Acesso, Equidade e Ética;
  2. Globalização da EaD e Aspectos Transversais na Cultura;
  3. Sistemas de EaD e Instituições;
  4. Modelos e Teorias;
  5. Métodos de Investigação na EaD e Transferência do Conhecimento
No que diz respeito ao nível meso temos como áreas de investigação:
  1. Gestão e Organização;
  2. Custos e Benefícios;
  3. Tecnologia Educacional;
  4. Inovação e Mudança;
  5. Desenvolvimento Profissional e Suporte Institucional;
  6. Serviços de Suporte ao Estudante;
  7. Quality Assurance.
E ao nível micro:
  1. Design Instrucional;
  2. Interacção e Comunicação nas Comunidades de Aprendizagem;
  3. Características dos Estudantes.
Destas áreas, algumas têm tido um maior enfoque (Macro - área 1; Meso - áreas 1, 4, 5, 6 e 7; Micro - todas as áreas) e outras mais negligenciadas. Das áreas mais negligenciadas é interessante verificar que uma delas é a que reporta aos 'custos e benefícios'. De facto este é um elemento que qualquer instituição educativa deveria ter como prioridade na sua análise, para que haja graus mais elevados de eficácia e eficiência. Contudo, não nos podemos esquecer que as instituições educativas devem ter preocupações centradas no lado pedagógico e devem deixar para segundo plano as questões financeiras, sem perder a noção que têm que ser organizações sustentáveis.

Deste modo, um investigador deve estar ciente das áreas de estudo e, entre várias variáveis associadas ao processo de decisão do caminho a tomar, deve estar atento às áreas emergentes, que permitam um forte contributo para o avanço científico na EaD. Contudo, na sua ação investigativa também deve ter um outro cuidado: publicar.
Se tivermos em consideração a famosa expressão 'publish ou perish', o investigador tem que ter noção das revistas que, na sua área, têm maior fator de impacto. O estudo de Zawacki-Richter, Bäcker e Vogt (2009) analisa precisamente as cinco revistas com maior expressão na EaD. Os artigos destas revistas centram-se maioritariamente nas áreas micro identificadas acima. Em termos de destaque de uma metodologia em particular, não são encontradas diferenças (apesar de determinados jornais darem maior relevo a um tipo específico de metodologia de investigação, por exemplo no AJDE os artigos com metodologias quantitativas tinham um peso de 63%). Aquilo que se encontra igualmente neste estudo é a existência de uma maior envolvência em projetos de colaboração internacional. Assim, o investigador ao ter noção do que as revistas valorizam, pode e deve canalizar os seus artigos para aquelas que são mais adequadas aos seus estudos. Mas as escolhas do investigador não devem estar dependentes destes aspetos; acima de tudo uma boa investigação deve partir de uma boa teoria, mas principalmente de uma boa questão de investigação.

Seminário Doutoral - Terry Anderson

Durante os dias 28 de Março e 1 de Abril tivemos a oportunidade de ouvir o Professor e Investigador Terry Anderson (TA) da Athabasca University no seminário doutoral levado a cabo na FCT - UNL.

No primeiro dia houve a preocupação de nos centramos em alguns estudos que abordavam as temáticas de investigação e os jornais científicos de EaD (este tópico será aprofundado neste link).

Na segunda sessão, com a temática 'Design-Based Research' (DBR), procurou-se identificar quais os paradigmas de investigação ligados à educação, segundo a perspectiva de TA. De notar que habitualmente vemos esta discussão centrada em dois grandes paradigmas (o positivista e o interpretativo). Contudo, neste seminário foram identificados quatro paradigmas de investigação. Os dois primeiros (positivismo e interpretativo) não oferecem grandes dúvidas, e o terceiro que foi apresentado (sócio-crítico ou reivindicatório e participatório) também parece ser consensual na comunidade científica. TA considera, adicionalmente, que na educação podemos identificar um quarto paradigma de investigação: o DBR (a metodologia associada a este será aprofundado posteriormente, uma vez que no contrato de aprendizagem está previsto um momento dedicado a esta metodologia). Esta identificação feita por TA parece ter algum fundamento, na medida em que temos quem identifique como tendência actual a integração metodológica (Coutinho, 2011), que centra a discussão mais ao nível metodológico e técnico da investigação do que focada nos aspectos teóricos e epistemológicos. A visão identificada em Coutinho (2011) parece estar mais clara em Creswell (2010). O autor fala de uma concepção filosófica pragmática na investigação, onde deve haver a preocupação na resolução prática do problema no mundo real, integrando métodos mistos na sua abordagem para melhor se ajustar às necessidades e aos propósitos da investigação. Assim, parece-nos que o DBR integra-se no paradigma pragmático, ficando "no ar" a questão se fará sentido falarmos do DBR como paradigma de investigação na educação, ou se se falará apenas de um paradigma pragmático (ou integrador das metodologias).

No terceiro dia fez-se uma passagem pelos grandes teóricos da EaD e da importância que a identificação de uma teoria tem para levar a 'bom porto' uma investigação, centrando-nos em particular no trabalho levado a cabo por Garrison e colaboradores no Community of Inquiry (CoI) Model. É evidente que num trabalho de cariz investigativo, tenha que haver um suporte teórico. Em EaD podemos ir 'beber' a várias fontes do conhecimento como a Educação, a Psicologia, as Tecnologias de Informação e Comunicação, as Ciências da Computação, entre outras, mas é também necessário olhar para as especificidades da EaD. Nesse sentido TA identificou as três grandes teorias, desenvolvidas por Holmberg (Theory of guided didactic conversation), Peters (Modelo industrial na EaD) e Moore (Distância transacional). Para além destes fundadores das teorias da EaD, TA explorou o trabalho de outros autores com relevância na área: Garrison (educação à distância vs educação a distância), Gunawardena (Influência cultural em EaD), Anderson (Teorema do Equivalência na Interação), Siemens (Conetivismo), Dron (Taxonomy of the Many). Para finalizar este dia de trabalho, TA dedicou-se à exploração do CoI, modelo desenvolvido inicialmente por Garrison, Anderson e Archer, alvo de vários estudos em muitos contextos ligados à EaD.

A discussão entre vários especialistas portugueses e TA sobre a temática do e-learning ficou para o quarto dia. Neste painel houve a preocupação por parte de TA de explorar, de acordo com o mesmo, as 3 gerações pedagógicas ligadas à EaD: (1) Comportamentalista/Cognitivista, (2) Construtivista e (3) Conetivista. A primeira geração ligada aos instrucionismo tem como características a existência de estruturas rígidas, uma grande distância transacional, a escalabilidade, poucas possibilidades de escolha por parte dos estudantes e baixos níveis de insegurança por parte destes últimos. Já a segunda geração, associada ao conceito de comunidade de aprendizagem, está fortemente dependente do grupo e dos processos de interação entre os seus elementos. Os modelos ligados ao construtivismo não permitem a escalabilidade que se consegue no comportamentalismo/cognitivismo, mas apostam muito mais em ferramentas colaborativas. Finalmente a terceira geração está relacionada com o conceito de rede, o que representa maior flexibilidade do que um grupo tradicional. O conetivismo tem o controlo localizado no próprio estudante, dando ao conhecimento um carácter emergente, distribuído, caótico, fragmentado, não sequencial, contextualizado.

O último dia debateu-se o conceito de 'Open Scholarship'. Este conceito ligado habitualmente ao princípio da 'bolsa de estudo' teve uma perspectiva de discussão diferente ligada assim aos recursos educativos abertos, à investigação e publicação aberta e ao ensino aberto. De fato toda a discussão em torno desta temática gerou-se em torno da gratuitidade de tudo o que estava relacionado com o ensino, a aprendizagem, a investigação e a publicação desta última e das consequências desta abertura e transparência. Este é, sem sombra de dúvida, um assunto muito polémico, porque envolve uma alteração paradigmática na sociedade. Por defeito as pessoas são conservadoras, seguem o movimento de massas e arriscam pouco por caminhos desconhecidos. A potencialidade deste conceito é enorme, nomeadamente no que diz respeito à acessibilidade por parte de públicos que não as elites. Certamente que o 'Open Scholarship' tem um terreno vasto a conquistar, mas a grande dúvida deixada por TA diz respeito às fronteiras e ao tipo de fronteira, porque é diferente termos um muro de betão com cinco metros de altura à nossa frente ou uma vedação em estacas de madeira onde, inclusive, nos podemos sentar a olhar para dentro do terreno.

Deste seminário surgiram dois produtos, um criado colaborativamente com o colega Nelson Jorge (Link) e uma apresentação em Prezi.



5 de abril de 2011

Reinício

Depois de um período prolongado sem colocar mensagens (apesar de ter respondido a alguns comentários), estou de volta. :)

Este espaço vai dar continuidade às anteriores análises, resumos, pesquisas e reflexões na área da investigação, mas agora mais centradas no e-research.